Toda criança é esperta e, mais cedo ou mais tarde, ela vai perceber a mentira.
A questão é: por que mentir?
Por ser conveniente, por não ter que ficar se explicando, entre os mais variados motivos.
Criança aprende através do exemplo, verdade incontestável, e eu continuo a perguntar: por que mentir?
Uma relação baseada na mentira é falsa, mas não quero dizer que uma relação entre pai-mãe e filho o seja. Certos comportamentos podem ser "inocentes", na primeira infância, mas essa criança irá crescer e as mentiras também.
E a mentira passa despercebida. Quantas promessas não cumpridas você ouviu de seus pais ou fez a seus filhos?
Outro dia, numa conversa sobre dar ou não chupeta (sou contra), minha mãe relatou um fato interessante: ela havia dormido com a chupeta, mas já tinha seus seis anos. Pela manhã, a chupeta havia desaparecido. Ela, com sua mãe, foi em cada mercado da cidade, para comprar outra e todos diziam que as chupetas haviam acabado! Minha avó, a essa altura, avisou a todos para dizerem essa "mentirinha", de que não tinha mais chupeta para vender, para que a filha parasse.
Fato é que minha mãe se lembra disso até hoje e ficou a lembrança de acordar sem a chupeta.
Uma coisa boba, mas que ficou na memória.
Não teria sido melhor dizer:"_Filha, você já está grande, virando mocinha, etc..."
Se seria mais fácil? Depende. Mas seria mais sincero e não teria criado esse trauma...
Tanto que eu e meu irmão não usamos chupeta porque, na visão da minha mãe, é uma covardia dar algo e depois tirar, assim, como num passe de mágica.
E falando em mágica, penso na fada do dente e na Befana, que passam na minha casa, para meus filhos.
Outro dia Dhayaram disse que sabia quem trouxe os presentes da Befana!
Eu, surpresa, esperei e ele dizia:"_Ah mamãe, você sabe!"
"_Sei?" , disse eu só pra ouvir sua resposta.
"_Você!", disse ele bem baixinho, para que Suraj, o irmão mais novo, não ouvisse.
"_E você sabe por que eu fiz isso?"
"_Porque você me ama, mamãe!" disse ele rindo.
É uma mentira criar esses momentos de presentes mágicos? Para alguns, sim.
Vejo uma diferença sutil entre as duas histórias citadas.
O que importa é a criatividade, a imaginação, e a Befana, o Papai Noel, a Fada do dente, mexe com esse mundo imaginário da criança, e porque não dizer que do adulto também?
É gostoso dar e receber presentes, é bom saber que alguém se importa.
E quando a criança descobre, é importante ela saber o que move esses momentos: amor, cumplicidade, imaginação, divertimento.
Não é uma mentira gratuita, como a descrita pela Pietra, da mãe que diz que gato não pára em casa, etc...
O ano que vem, quando a Befana chegar, vai ser diferente, cada um vai dar o que acha que o outro merece, e a magia não vai acabar!
É como quando se descobre o segredo do mágico: se você permitir ver a apresentação de novo, vai se encantar, como se fosse a primeira vez!
Um comentário:
Acontece que não existem sinônimos ...mentira, fantasia, mito são coisas tão diferentes quanto vermelho, rubro e encarnado ou pink, fucsia e escarlate...só que nós nunca nos damos conta disso depois que crescemos...pena! A Fantasia e a imaginação existem dentro de nós - assim como os "amigos invisíveis" tão reais para a criança e as nossos olhos "bobagens infantis", "de mentirinha " será ? A mentira é algo calculado, racionalizado...enquanto a imaginação, a fantasia residem em outras paragens...A Befana, o Noel, a Fada ( não apenas a do dente) eles estão vivos dentro de nós ( e por querer permetuá-los é que "mantemos eles vivos" dentro de nós e mostramos aos outros que eles "ainda estão lá" dentro de nós quando o trazemos para o mundo materializado...A criançada mesmo depois que "descobre" que para muitos estas coisas são "de mentirinha", continua acalentando esta imaginação/fantasia e mantem o "segredo", curtindo ainda mais ao manter a fatasia dos irmãos menores. E esta é a magia da Vida!
Ai crianças...que coisa mágica é poder conviver com vocês...Bjs encantados !
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